A filósofa participa, hoje, de bate-papo pelo projeto ‘Amor Diverso’, do Sesc Ribeirão (Foto: Divulgação)
Desde a Antiguidade Clássica, a filosofia sempre se
interessou pelo amor. Em um de seus textos, “Amor: promessa e dúvida”, a
filósofa e escritora Márcia Tiburi escreveu: “podemos dizer que a filosofia
começa com a descoberta do amor”.
Para a gaúcha, que abre hoje a programação de literatura do
projeto “Amor Diverso”, do Sesc Ribeirão, pensar é um ato de amor.
Tanto que, de acordo com ela, a própria palavra filosofia é
constituída do termo “filia”, que pode ser traduzido por amizade. E a amizade,
diz, “faz parte do amplo campo conceitual do que chamamos de amor”.
“O amor, nesse caso da filosofia, tem a ver com desejo de
alteridade, a busca do outro, do outro que é o conhecimento, mas também a outra
experiência. O amor é, filosoficamente falando, uma abertura ao outro”, afirma,
em entrevista por e-mail.
Márcia comanda, hoje, no Auditório do Sesc, um bate-papo
sobre o tema “Amor: uma reflexão sobre uma emoção essencial”, em que defende
que compreender o sentimento é entender o que queremos da vida e de nós mesmos.
“Se conseguíssemos compreender o outro, entraríamos no clima
do amor em seu sentido mais geral. Mas tendemos a reduzir o amor a uma posse e
uma garantia de afeto imediato. Essa posse e essa garantia revelam-nos a nossa
própria miséria”, analisa.
Compensação
A autora concorda com a frase do alemão Arthur Schopenhauer
de que “o amor é a compensação da morte”. Márcia afirma que o conceito não pode
ser reduzido apenas à questão trágica e romântica, em que prevalece o
sofrimento.
“O amor é mais que isso. Ele é um afeto que tem uma história
no campo da cultura. O amor já foi experimentado e definido de muitos modos
pelas sociedades no tempo histórico. Ele é uma espécie de texto, ou de
discurso, mas também de prática que requer análise”, comenta.
A escritora discorda, ainda, do velho clichê de que amar é
algo irracional.
“Não creio que a separação entre razão e emoção seja correta
em si mesma. O amor sempre foi tratado como uma emoção, um afeto. Talvez a
teoria de Nietzsche, que afirma ser a razão um afeto como são os outros
(inveja, ódio, desejo), seja a melhor de todas quando se trata de tentar
entender o amor”, diz.
‘O amor é uma invenção’, diz filósofa
Márcia Tiburi avisa que não adianta nos enganarmos por meio
do “véu da mistificação” de que o amor é algo natural, inerente à nossa
natureza. Na verdade, trata-se de uma invenção humana, assim como a religião, a
filosofia e o pão de forma.
“O amor é cultural e histórico, não é simplesmente natural.
Seja o amor materno, paterno, fraterno, hetero ou homossexual, todos são
culturais, todos mudam com o tempo e as necessidades e desejos das pessoas”,
afirma.
A filósofa ressalta que o termo se presta a muitas coisas e,
como qualquer palavra carregada de história e simbolismo, pode ser usada para
acobertar o seu contrário. “No caso de crimes passionais, o amor como um
sentimento puro, generoso, respeitoso, radical, foi usado para acobertar o fato
ignominioso do ódio que está na base do crime”, exemplifica Márcia, que lembra
ainda que a sociedade de consumo banalizou o amor.
“Ele virou mercadoria. Como tudo. Nesse sentido, passou a
ser um valor submetido ao capital. E, nesse caso, realmente banal, pois não
vale mais nada senão o que o capital permite que ele valha”, diz.
A autora afirma, ainda, que as pessoas também se submetem a
muitas regras sociais para se apaixonarem. É o que ela chama de “conjunto de
protocolos bem organizados” de amor.
Mas, ao final, mantém o otimismo. “Sempre podemos dizer que,
seja de que modo for, só é amor se for pleno de respeito, de justiça e de
abertura ao diferente”, conclui.
Serviço
Hoje, às 20h30, no Auditório do Sesc
Rua Tibiriçá, 50
Entrada grátis.
http://www.jornalacidade.com.br/lazerecultura/lazerecultura_internaNOT.aspx?idnoticia=1025870
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