Passagens da minha
terra
“Hoje, nossa Itaituba
comemora 156 anos, depois de ser elevada à categoria de cidade, outorgada pela
Lei n° 290 de 15 de dezembro de 1856”.
Com
evolução na comunicação e a democratização do conhecimento, o acesso à informação
mais rápida, torno público, um dos textos elaborados pelo meu pai Francisco
Xavier Lages de Mendonça (Fran Mendonça) - historiador nato, um pouco da
história do município de Itaituba.
Em minha opinião, esse texto é de interesse
de todos que amam Itaituba e que desejam conhecer a sua história. Em primeiro
lugar a população em geral, políticos, professores, alunos, acadêmicos universitários,
profissionais liberais, comerciantes, enfim, a todos que amam nossa Itaituba.
Armando Mendonça
"O carinho que nos autoriza
dizer “nossa Itaituba” advém do fato de sermos uma parte de seu acervo
remanescente, nascemos e vivemos com Ela, nossos avós, bisavós, trisavós. Por esta
razão amamos Itaituba com amor filial, com desejo de vê-la sempre crescer e
promover-se em nosso esplendoroso Vale do Tapajós, o rio das águas mais belas
do mundo.
Depois da sua fundação,
Itaituba caminhou arrastando-se pelos anos afora. Com o advento da Primeira
Grande Guerra, através da sua produção de borracha, conseguiu aparecer, quando
o Coronel Raymundo Pereira Brasil, sexto Intendente a governar Itaituba após o
período Republicano, levou nossas riquezas nativas, em especial a borracha, à
Londres, numa exposição de produtos tropicais, pelo que diz a Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros: “foi Itaituba a primeira comuna brasileira a ser conhecida na
Europa” (IBGE Vol. XIV), o que para nós, Itaitubenses é motivo de orgulho.
No tempo áureo da borracha,
Itaituba experimentou “luxo e riqueza”, a indumentária dos ricos era
confeccionada em Paris. Caiu o preço da borracha, as casas que eram revestidas
com azulejos importados de Portugal, assoalhadas com madeira de acapu e pau amarelo,
seus umbrais eram de mármore de Carrara, começaram a ruir, pois toda aquela
riqueza era aparente, era fictícia.
Mais tarde, já em 1958, veio o evento do ouro, quando Nilçon Barroso Pinheiro e seu irmão Edson Pinheiro, chagado do vizinho Estado do Amazonas, vindos numa expedição, aportaram na casa de Júlia Sales, na localidade Crepú, na foz do igarapé Muriussú, Rio Tapajós, donde rumaram para Jacaré-Acanga, onde fizeram um acampamento, armando suas tendas que eram cobertas de “encerados”. A missão da expedição de Nilçon e Edson era a exploração de ouro. Raimundo Ferreira, homem da região, explorador e extrator de óleo de copaíba acompanhava-os nas explorações; depois de algum tempo, Raimundo Ferreira abandonou o grupo para dedicar-se ao seu trabalho: extrair óleo de copaíba. Ganhou a mata precisamente à proximidade do Rio das Tropas, ocasião em que, por já conhecer um pouco a garimpagem, encontrou uma grota, afluente do Rio das Tropas, onde o “ouro” estava à flor da terra. Daí retornou já trazendo amostra do precioso metal, que chegando a Jacaré-Acanga, vendeu tanto o ouro como a grota explorada, para Nilçon e seu irmão Edson, que depois de instalados no garimpo do Ferreira, no Rio das Tropas, prosseguiram nas explorações do ouro do Tapajós, quando outros garimpos foram encontrados, inclusive o do garimpo Cuiú-Cuiú, a margem do igarapé do mesmo nome, onde Nilçon e sua equipe instalaram-se. Daí começou a “corrida do ouro”, que obrigou Nilçon Pinheiro a mandar derrubar árvores marginando o igarapé do cuiú-cuiú, para obstruí-lo e evitar a invasão dos garimpeiros ou regatões que desejassem chegar a seus garimpos, onde só tinha acesso seus trabalhadores, que, quando terminavam o seu contrato de trabalho podiam baixar (sair do garimpo), antes, porém, eram submetidos a “vistoria”, para evitar a evasão do precioso metal. Mesmo assim, não faltavam os curiosos que abriam janelas no lenho de seus tamancos, colocavam fundo suposto em suas maletas de madeira, carregavam cartuchos colocando ouro no local do chumbo, enfim, tantas outras fórmulas capazes de possibilitar a retirada do ouro clandestinamente.
O barco motor Arnaldo Pinheiro
e o Barroso Pinheiro não paravam de navegar, conduziam gente e ouro. Onde o
Arnaldo Pinheiro pernoitava era certo uma noite de alegria. Santarém era a
praça fornecedora e compradora da mercadoria e ouro, Itaituba nada lucrava. Os
jornais chegavam a publicar: “GARIMPOS DE SANTARÉM” (quando em Santarém não
havia um só garimpo).
Hoje, após a construção das
estradas Transamazônica e Cuiabá- Santarém foi possibilitado maior, melhor e
mais rápido acesso a Itaituba; criaram-se linhas aéreas comerciais. O
firmamento de Itaituba pontilhou-se na revoada dos aviões monomotores, os
barcos que demoravam dias para chegar a Santarém, hoje o fazem em 18 horas,
escalando ainda, e a moeda mostrou seu anverso. Agora Itaituba usufrui
resultado do produto das entranhas das suas terras. Ouro é vendido aqui mesmo,
mercadorias também. Passamos a ocupar nosso
verdadeiro lugar, antes ocupado por Santarém. Itaituba é o centro polarizador
dos garimpos do Tapajós.
Depois da emancipação do
ouro, da construção das estradas, da navegação aérea comercial, Itaituba
progride e caminha a passos largos para sua emancipação econômica, que não será
tão frágil e passageira como aquela determinada pela borracha, contamos com a
agricultura promissora, com o ouro que é suporte da nossa economia atual, a
pecuária que já começa a desenvolver-se e a indústria, embora extrativa. Contamos
com o Banco do Brasil, Bradesco, DNER, IBDF, Fundação SESP, SUCAM, INPS-FUNRURAL,
CRPM, CELPA, 53 BIS, COSAMPA, Caixa Econômica, CEPLAC, MATER, INCRA, SEDUC, Campus
avançados de Itaituba, e tantas outras entidades, lutando por um único
objetivo: fazer o progresso de Itaituba.
Agora podemos separar as
três épocas de Itaituba: fase da borracha, do ouro e do ouro-agricultura, esta
última feita pelos milhares de garimpeiros e agricultores, bandeirantes do
século XX, plantados nos centros das matas ou as margens das estradas,
trabalhando, construindo o futuro da nossa região, pois a agricultura, mais que
o ouro, é a coluna vertebral de uma nação, que é feita pelos heróis anônimos. Aos
garimpeiros e agricultores, bem como a todos que direta ou indiretamente vem cooperando
para o futuro de Itaituba, nossos agradecimentos fraternos, não esquecendo, que
TODOS SOMOS BRASILEIROS."
Itaituba, 10 de
dezembro de 1979.
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