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sábado, 17 de janeiro de 2015

Márcia Tiburi participa de projeto do Sesc discutindo o amor do ponto de vista filosófico

Divulgação
A filósofa participa, hoje, de bate-papo pelo projeto ‘Amor Diverso’, do Sesc Ribeirão (Foto: Divulgação)
Desde a Antiguidade Clássica, a filosofia sempre se interessou pelo amor. Em um de seus textos, “Amor: promessa e dúvida”, a filósofa e escritora Márcia Tiburi escreveu: “podemos dizer que a filosofia começa com a descoberta do amor”.

Para a gaúcha, que abre hoje a programação de literatura do projeto “Amor Diverso”, do Sesc Ribeirão, pensar é um ato de amor.

Tanto que, de acordo com ela, a própria palavra filosofia é constituída do termo “filia”, que pode ser traduzido por amizade. E a amizade, diz, “faz parte do amplo campo conceitual do que chamamos de amor”.

“O amor, nesse caso da filosofia, tem a ver com desejo de alteridade, a busca do outro, do outro que é o conhecimento, mas também a outra experiência. O amor é, filosoficamente falando, uma abertura ao outro”, afirma, em entrevista por e-mail.

Márcia comanda, hoje, no Auditório do Sesc, um bate-papo sobre o tema “Amor: uma reflexão sobre uma emoção essencial”, em que defende que compreender o sentimento é entender o que queremos da vida e de nós mesmos.

“Se conseguíssemos compreender o outro, entraríamos no clima do amor em seu sentido mais geral. Mas tendemos a reduzir o amor a uma posse e uma garantia de afeto imediato. Essa posse e essa garantia revelam-nos a nossa própria miséria”, analisa.

Compensação
A autora concorda com a frase do alemão Arthur Schopenhauer de que “o amor é a compensação da morte”. Márcia afirma que o conceito não pode ser reduzido apenas à questão trágica e romântica, em que prevalece o sofrimento.

“O amor é mais que isso. Ele é um afeto que tem uma história no campo da cultura. O amor já foi experimentado e definido de muitos modos pelas sociedades no tempo histórico. Ele é uma espécie de texto, ou de discurso, mas também de prática que requer análise”, comenta.

A escritora discorda, ainda, do velho clichê de que amar é algo irracional.

“Não creio que a separação entre razão e emoção seja correta em si mesma. O amor sempre foi tratado como uma emoção, um afeto. Talvez a teoria de Nietzsche, que afirma ser a razão um afeto como são os outros (inveja, ódio, desejo), seja a melhor de todas quando se trata de tentar entender o amor”, diz.

‘O amor é uma invenção’, diz filósofa
Márcia Tiburi avisa que não adianta nos enganarmos por meio do “véu da mistificação” de que o amor é algo natural, inerente à nossa natureza. Na verdade, trata-se de uma invenção humana, assim como a religião, a filosofia e o pão de forma.

“O amor é cultural e histórico, não é simplesmente natural. Seja o amor materno, paterno, fraterno, hetero ou homossexual, todos são culturais, todos mudam com o tempo e as necessidades e desejos das pessoas”, afirma.

A filósofa ressalta que o termo se presta a muitas coisas e, como qualquer palavra carregada de história e simbolismo, pode ser usada para acobertar o seu contrário. “No caso de crimes passionais, o amor como um sentimento puro, generoso, respeitoso, radical, foi usado para acobertar o fato ignominioso do ódio que está na base do crime”, exemplifica Márcia, que lembra ainda que a sociedade de consumo banalizou o amor.

“Ele virou mercadoria. Como tudo. Nesse sentido, passou a ser um valor submetido ao capital. E, nesse caso, realmente banal, pois não vale mais nada senão o que o capital permite que ele valha”, diz.

A autora afirma, ainda, que as pessoas também se submetem a muitas regras sociais para se apaixonarem. É o que ela chama de “conjunto de protocolos bem organizados” de amor.

Mas, ao final, mantém o otimismo. “Sempre podemos dizer que, seja de que modo for, só é amor se for pleno de respeito, de justiça e de abertura ao diferente”, conclui.

Serviço

Hoje, às 20h30, no Auditório do Sesc

Rua Tibiriçá, 50


Entrada grátis. 

http://www.jornalacidade.com.br/lazerecultura/lazerecultura_internaNOT.aspx?idnoticia=1025870