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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Do “paraense” Lobo de Souza ao líbio Kadafi, melhor o plebiscito

Felizmente hoje as armas estão sendo as palavras e os símbolos. Esperemos, todos, que aí permaneça a disputa. Mais vale um plebiscito do que uma guerra.

Parece que a história ensina que estraçalhar ditadores em praça pública não é o melhor caminho para a tolerância necessária na convivência social.  Se assim fosse, por exemplo, o Pará seria hoje um mar de rosas, desde que, em 7 de janeiro de 1835, o governador Lobo de Souza foi retirado, pela população enfurecida, de dentro do Palácio, em Belém, morto a pauladas, arrastado pela rua até próximo ao mercado do Ver-o-Peso, tendo seu corpo vilipendiado por centenas de urinadas sobre o cadáver.

Lobo de Souza: a turba encara o governador do Grão-Pará,
que logo a seguir seria despedaçado pelas ruas de Belém



Era o começo da Guerra da Cabanagem, que ensanguentou a Amazônia daquele tempo e, pela derrota dos Cabanos, permaneceu a terrível desigualdade social que persiste até hoje nestas terras de tanta fartura e tanta pobreza extrema.

Sem precisar retornar no tempo, basta olharmos algo muito parecido que aconteceu a outro ditador, este contemporâneo, Muamar Kadafi, senhor da Líbia até pouco tempo atrás. Morto por grupos que não comeram da mesa do ditador, seu corpo passou por situação parecida ao de Lobo de Souza na Belém do século 19. Há, por acaso, quem garanta que a Líbia irá se tornar democrática e igualitária por causa disso?
Imagem de hoje: a multidão executa e vilipendia o corpo de Kadafi
Alguém poderá dizer que há exceções, como no caso de Mussolini. Morto pelos inimigos do nazi-fascismo, teve seu corpo exposto em público, em Milão. Ocorre que, antes e durante o reinado do ditador, a Itália já tinha uma população relativamente educada, embora a miséria ainda empurrasse milhões deles para o Brasil e tantos outros países. E, como sabemos, é a educação de um povo, e não o despedaçar de ditadores, que, em algum momento, energiza uma nação a superar as suas lambanças e desigualdades inaceitáveis.

Olhando, assim, de modo tão rápido para a História, faço estas reflexões porque tenho assistido, especialmente por meio do (péssimo) anonimato proporcionado pela internet, a um crescente burburinho tendente ao ódio entre alguns grupos que desejam ver Tapajós e Carajás como novos Estados e aqueles que desejam que isso não aconteça.

A antiga experiência da Cabanagem também partiu do interior e repercutiu intensamente em Belém, centro do poder. Hoje, o movimento por emancipação político-administrativa também vem do interior, da mesma forma repercutindo de modo intenso na capital. Se as lições daquela guerra de 1835-1840 tivessem sido assimiladas pelos donos do poder, ao menos em parte, talvez hoje a dissensão não estivesse em alta nesta parte da Amazônia.

Felizmente hoje as armas estão sendo as palavras e os símbolos. Esperemos, todos, que aí permaneça a disputa. Mais vale um plebiscito do que uma guerra. Em vez de estraçalhar ditadores, o povo do Pará (ganhe o Sim ou o Não) precisa mesmo é esmagar heranças tão funestas que impedem milhões de desfrutar de um pouco daquilo que poucos desfrutam de muito. Acabar com a ignorância, com a miséria, com a vida nos pântanos da capital e nas favelas do interior. E, por fim, aparecer o Pará de modo diferente do que aparece nos noticiários nacionais, como um dos mais pobres e violentos do Brasil. Que vergonha! Podemos e devemos mudar isso, com os antigos ou com os novos limites internos.

Tristemente, o anonimato digital parece crer no contrário. 

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